sexta-feira, 24 de março de 2017

no ponto

Hoje me comoveu o sorriso de uma senhora no Ponto de ônibus. Perguntei se ela sabia se havia alguma linha naquele horário. A reação dela denunciou que não sabia, mas emendou logo na sequência um “ logo passa”, com um sorriso confiante no rosto. Quisera eu ter essa confiança nos olhos, mas os tempos são duros, assim como meu olhar a constatar que ela estava errada.

quinta-feira, 23 de março de 2017

no fundo virei
poeta por falta
de autoestima
sin
ser
idade
A vergonha de cada
privilégio encarnado

que nada muda

Não leia a bíblia

Tá tudo rotulado
Gente de todo lado
Ninguém foge da engrenagem
Viva a nossa nova imagem!

O destino traçado
na linha de produção
essa é a nossa religião
E a vida segue embalada
em polietileno e acaba
estocada e à venda
Em sua devida seção

Quem quiser saber
Um pouco de nós
Precisa aprender

Não leia, não leia, não leia a bíblia
Leia os rótulos, leia a vida!

Lógica de mercado

o preço do nosso
insistente atraso
ético-ecológico

Hodierno

Um monte de mortos que matam.
encontrar a língua
na sua fragilidade
Eu buscava uma poesia engas
                                               ga
                                                   da
no cessar da luz
lua de lasca de unha
no primeiro dia do ano
não! não quero menos que um olhar
que atravessa o âmago e vai dar
junto sei lá onde
Em meus delírios egoicos
Vejo quem me lê implorando
Com raiva o resto
(do poema, dos livros, da prosa, do tema, da obra, daquilo que de fato tenho pra dizer)
Em vão.

O que me faço em palavras não é mais que palavras
o ritmo do espetáculo
no gotejar do fim da chuva
de entardecer

quando a concisão da palavra não me bastar fui ser conciso na vida