sexta-feira, 26 de junho de 2009

À sua repartição

Venho por meio desta requerer um pouco de poesia
em sua triste burocracia

Em anexo, declarações de amor e a alma de algumas pessoas
______ para serem preenchidas

Peço a gentileza de encaminhar no barro
com o corpo todo descalço

É de extrema desimportância:
lançar mão de frestas nas janelas
para emaranhar a sala do escritório
com incontáveis blocos contendo: sopro de vento

Solicitamos urgente atenção para a elaboração de escritos
Ser serelepe no trato com a língua
eis a regra

Dispachar aquele prego enferrujado

no meio do paiêro
Assina em cima
Assina em cima

Se possível, verter menos tinta agapê
face abaixo


assinado

4 comentários:

Karina disse...

E que este anuncio seja um renuncio de toda ausência de expressão, que seja um convite a emoção e a vaga idéia de ser pelo apenas que somos, e o que encontramos é conseqüência do que vemos, lemos e escrevemos.
Procuram-se pessoas destinadas a serem pessoas e portar-se como tal.

Excelente texto tem muito talento menino!

Karina.

Paulo Montanaro disse...

Acho que essa vida de funcionário público está influenciando até a sua poesia, que continua ótima!

Acho até que vc poderia criar um personagem nesse estilo, em quadrinhos, e publicar tiras por aqui, hein! hehehehe

Dar idéias é fácil...

Grande abraço!
Paulo

Anônimo disse...

Agradeço as palavras... Cometamos mais e mais delitos, das mais variadas formas!

Raquel disse...

Realmente vejo nesse poema muita influência do nosso trabalho, seja nas várias palavras formais que escrevemos todos os dias, mas principalmente na falta de poesia e excesso de burocracia.
Que orgulho do meu amigo poeta e companheiro de luta!
Beijos

quando a concisão da palavra não me bastar fui ser conciso na vida